Mulher Tupinambá com criança, 1641-44
Albert Eckhout, Flandres (1610-1666)
Óleo sobre madeira, 265 x 157 cm
Museu Nacional da Dinamarca
Paraguaçu
Raquel Naveira
Paraguaçu,
Índia tupinambá.
Apaixonou-se por Caramuru.
Caramuru era um peixe,
Alongado como uma serpente
De mucilagem azul,
Era a alcunha de Diogo Álvares Correia,
O náufrago português,
O homem de fogo
Capaz de matar aves do céu;
Saíra por encanto
Das águas do mar
Gotejando pelos poros
Pequenos brilhantes.
Por esse deus misterioso,
Cheirando a pólvora,
Enamorou-se Paraguaçu,
Índia de olhos grandes,
Negros como um turvo rio.
Caramuru e Paraguaçu
Partiram numa caravela
Rumo à França,
Lá ela se tornou Catarina,
Nome de rainha e santa.
Cobriram de tulherias e sedas
Seu corpo nu
De selvagem menina,
Entre livros e castelos
Sua alma se estilhaçava
Entre dois mundos.
Regressaram à Bahia,
Diante de injustiças
E desmandos,
Caramuru prisioneiro,
Paraguaçu virou guerreira,
Flechas zumbiram nos ares,
Depôs e matou o donatário Pereira.
Paraguaçu,
Índia tupinambá,
Mulher, terra, nação,
Submeteu-se por muito amar.
Em: Stella Maia e outros poemas, Campo Grande, MS; Editora UCDB:2001
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